Um documento apreendido pela Polícia Federal em diligência no Paraná e atribuído à facção criminosa Primeiro Comandoda Capital (PCC), no âmbito da investigação que desbaratou o plano para matar o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), cita políticos e advogados cearenses.
O conteúdo do material se tornou público na semana passada, depois de levantamento do sigilo do inquérito, por determinação da juíza titular da 9ª Vara Federal de Curitiba, Gabriela Hardt.
No ofício dirigido à magistrada em 13 de março, com pedido de autorização para executar mandados de prisão preventiva de suspeitos de envolvimento com o esquema, a PF registra ter identificado “diversas anotações de datas e valores” durante busca e apreensão em imóveis alvos da operação.
O documento reproduzido pela Polícia lista então supostas despesas advocatícias que um defensor, contratado pelo PCC, teria realizado em um dos casos envolvendo membro da facção criminosa paulista, aparentemente sem ligação com o plano cujo alvo era Moro.
Entre esses custos, estão visitas a Fortaleza, onde ele teria mantido agendas com outros advogados, um ex-promotor de Justiça e um “deputado”, cujo nome não é revelado.
Intitulada “Breve relato sobre o cliente Gilberto”, a peça, que tem apenas data (“24/8/2022”) e não é assinada, apresenta, antes do detalhamento desses desembolsos, uma justificativa para a prestação de contas: “Jamais nos foi solicitado relatório dos destinos das despesas, mas para que fique claro, iremos elencar algumas delas, conforme abaixo”.
A maior parte dos itens que constam do documento apreendido pela PF diz respeito a deslocamentos para o Ceará, mas há menção também a uma “perícia grafotécnica” em processo que tramita na Justiça estadual. Ao lado, o nome indicado é “dra. Celi”.
Viagens ao Ceará
Pelo menos cinco viagens à capital cearense estão enumeradas no arquivo, das quais quatro aparecem como “Viagens a Fortaleza para reuniões” com “dr. Igor”, “dr. Junior (prefeito de Chorozinho), dr. Washington, dr. Claudio”, “dr. Paulo Quezado”, “dr. Oliveira (ex-promotor), João e dr. Marcelo”.
Confira o pedido de prisão preventiva apresentado pelo delegado de Polícia Federal Martin Bottaro Purper, onde constam as informações sobre os cearenses:
Prefeito relata proposta recusada de participar da defesa
O prefeito de Chorozinho (CE), Júnior Menezes, negou qualquer envolvimento com pessoas ligadas ao grupo criminoso.
Sobre a citação a ele no material colhido por agentes da PF, o gestor, que é advogado, respondeu: “É bem simples, antes de eu ser prefeito, minha profissão é advogado. Advoguei em várias ações, inclusive em ações de repercussão no estado. Fui procurado por um colega há dois anos, talvez, querendo que eu o ajudasse em uma ação de um processo no Estado”.
Segundo o prefeito, esse colega “esteve no escritório” e lhe fez a proposta de participar da defesa, mas ele rejeitou. “Como não posso advogar, a gente declinou dessa possibilidade, tendo em vista de eu estar impedido por conta do cargo. Por isso colocou lá ‘prefeito de Chorozinho’”, declarou.
De acordo com Menezes, a tratativa com o advogado com quem havia se reunido se encerrou nesse diálogo. “O que eu sei foi isso, não vou passar qual é o caso por causa da questão ética. Mas foi só isso. Não tive nenhum contato com nenhum tipo de bandido nem nada, o contato foi com um colega advogado que me procurou”, acrescentou.
O prefeito disse estar “tranquilo” e que “estão se aproveitando disso para tentar de alguma forma crescer politicamente e fazer alguma ligação da política com o crime, mas é zero possibilidade”. Júnior Menezes foi reconduzido à presidência da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece). Ele se desfiliou do PDT no ano passado para apoiar Elmano de Freitas (PT) para governador do Estado.
*O Povo